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Entre o visível e o invisível.

por Filipa Duarte de Almeida

À medida que um nganga se maquilha, vai desaparecendo progressivamente para dar lugar ao seu mukuku. A cada traço que é desenhado, branco, vermelho ou preto, o homem deixa de ser homem e passa a ser espírito, antepassado, herói mítico. O corpo é então suporte para a manifestação do invisível. E a estética, efémera, existe apenas para um momento preciso, mas que representa paradoxalmente, o que é permanente, eterno e infinito.

 

À luz deste pensamento espiritual, cada uma destas fotografias materializa o sobrenatural. E quando o invisível se torna visível através da imagem revelada, esta concretiza todo o imaginário que povoa o Bwété.

Longe dessa lógica, longe desse mundo onde o espaço se transforma e o tempo é abolido, lá, na floresta, entre o fumo e a poeira levantada pelo nganga que dança ao ritmo dos tambores, cabe a cada um de nós escolher a nossa posição perante elas: atrás ou à frente das muralhas de Senghor.

Stéphane Bailby, entra em contacto com o Bwété durante uma viagem ao Gabão em 2009.

Iniciado na espiritualidade, na filosofia e na prática deste culto ancestral, herança dos primeiros homens, ele vai   empreendendo sucessivas viagens de retorno à aldeia de Bolokobué.

É durante uma cerimónia que conhece Filipa, historiadora em Arte e religiões africanas, que veio pela primeira vez em 2012 numa viagem científica, e que decide aí ficar até hoje.

Na primavera de 2016, é-lhe concedida uma autorização excepcional para a realização dos retratos dos nganga, vestidos e maquilhados enquanto encarnação do seu Mukuku.

Os retratos foram feitos nas aldeias de Bolokobué com os nganga-a-misôkô, e Okalassi com os nganga-a-disumba.

«Il faut, alors être initié, être doué de ces yeux intérieurs qui, comme l’image, percent les murailles.» — Léopold Sédar Senghor

Bwété:

Sociedade iniciática, que pressupõe a possibilidade de estabelecer relações entre o homem, os espíritos e os antepassados.

 

Nganga:

IIndivíduo iniciado no Bwété. Intermediário entre os dois mundos, visível e invisível.

Mukuku:

Antepassado. Espírito que acompanha cada nganga e que se revela no dia da sua iniciação.

© 2018 Stéphane Bailby

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